Nos últimos anos a preocupação com a escassez dos recursos naturais deixou de ser pauta apenas de grupos ativistas para se tornar tema constante de governos, empresas e consumidores. Receosos com o impacto que o desenvolvimento tem gerado no meio ambiente, cidadãos, imprensa e organizações têm cobrado uma postura sustentável das empresas e exigido delas um maior cuidado com o meio ambiente. Assim, essa “onda verde” tem causado um impacto positivo em setores como o da construção civil. No Brasil, o número de construções desse tipo cresce em ritmo constante, fazendo com que o País, em oito anos, ocupe a quarta posição no ranking mundial de construções sustentáveis, de acordo com o órgão internacional Green Building Council (US GBC).
E é justamente nesse cenário que o acrílico mais uma vez demonstra suas qualidades e diferenciais por ser um material 100% reciclável que, quando descartado, pode ser novamente transformado em chapas que são utilizadas para uma infinidade de aplicações como objetos decorativos, displays comerciais e acessórios femininos. Todo esse processo é possível por ser o acrílico um termoplástico que não sofre alterações significativas na sua estrutura química durante o reaproveitamento, permitindo ser fundido após o processo de recuperação do monômero de metacrilato de metila.
Além disso, trata-se de um material extremamente valioso no mercado de reciclagem quando comparado a outros plásticos, o que faz com que o seu índice de reaproveitamento seja bastante alto: de acordo com estimativas do setor são recicladas no País aproximadamente duas mil toneladas por ano de chapas e resinas acrílicas. Número esse que só não é maior porque o acrílico, além de muito durável, é utilizado na produção de bens que também possuem longa vida,
só sendo descartado no caso de quebra ou se o produto chega ao final de sua
vida útil.
BONS EXEMPLOS
Uma das pioneiras nesse tipo de reciclagem é a Plastiglas, empresa do grupo Unigel, que há 50 anos produz chapas acrílicas com insumos 100% reciclados em sua fábrica no México. De acordo com Luiz Vargas, gerente comercial da Unigel, as chapas podem ser produzidas em qualquer cor e tamanho e seu desempenho é equivalente às produzidas a partir de resinas virgens. “Após o processo de reciclagem, o material segue principalmente para o mercado norte-americano e mexicano para aplicações de empresas/utilizadores que demandam por produtos ecologicamente corretos e que reconhecem a importância de reaproveitar os recursos existentes de maneira mais eficaz”, destaca.
No Brasil, a Itacril, de São Paulo, é uma das empresas que realiza esse processo. Ali são recicladas cerca de 80 toneladas de acrílico ao mês que, após processadas, resultam em 50 toneladas de chapas recicladas prontas para serem transformadas. O processo de reciclagem na Itacril, de acordo com Januário Pedro Feverini, diretor comercial da empresa, é realizado de ponta a ponta. “Compramos parte da sucata de catadores e a outra parte retiramos nas empresas cadastradas. Em seguida, tiramos o plástico da borda da chapa e o enviamos para uma empresa parceira que faz a destinação correta do lixo. Então, moemos a sucata, colocamos no forno, retiramos o líquido, destilamos e aí, sim, produzimos as chapas. Todo esse processo dura em média de 10 a 15 dias”, explica.
As chapas recicladas, conforme explica Januário, vão para o mercado com um valor em torno de 20% mais baixo que as chapas novas, ainda que mantenham a mesma transparência. “Nossos clientes costumam dizer que fabricamos o melhor genérico do mercado”, brinca o empresário, que ressalta: “Quando um comprador liga interessado nas chapas,procuro questionar sobre a finalidade da aplicação. Se o cliente disser que fabricará incubadoras para bebês, por exemplo, não vendo e indico empresas fornecedoras de chapas novas. Isso porque, em casos como esse, o material, devido ao processo que sofreu, pode trazer riscos à saúde. Mas para a maioria das finalidades a chapa reciclada é uma excelente opção”, finaliza. O meio ambiente, claro, agradece.
PROCESSO DE RECICLAGEM DE CHAPAS ACRÍLICAS
1 Coleta da sucata industrial;
2 Limpeza e moagem: a sucata é separada de outros materiais, limpa e moída.
3 Craqueamento: aquecida a temperaturas acima de 410º C, as moléculas são quebradas dando lugar aos monômeros de metacrilato de metila.
4 Lavagem: o monômero é lavado para eliminação de contaminantes.
5 Decantação: separação da fase aquosa (que vai para tratamento) da fase orgânica que segue para a etapa de purificação.
6 Purificação: remoção de contaminantes leves e pesados.
7 Reutilização do monômero: o metacrilato de metila é purificado a 99.5% e reutilizado na fabricação de chapas acrílicas ou outros derivados do produto.
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